Plataforma IoT da USP equipa respirador nacional
Caninos Loucos, projeto de produção de plataformas para internet das coisas, já tem um caso de sucesso. A criação, gerada na Universidade de São Paulo (USP) e com parceria da Smart Modular Technologies para produção, gerou o ventilador Inspire, que tem salvado vidas durante a pandemia do coronavírus.
“O Inspire Ventilator tem dispositivos Iot que permitem que o ventilador se comunique com o resto do mundo. É feito para produção em escala utilizando motores da indústria automobilística”, contou o professor Raul Gonzalez Lima nesta quarta, durante o eminário online “Plataforma brasileira de Iot – Caninos loucos – Casos reais de implementação na borda cognitiva”.
“Sabíamos que o Inspire teria que ter baixo custo, ser validado clinicamente [pela Anvisa], com funcionamento ininterrupto 24 x 15 (há relatos de uso por até até 9 dias seguidos), manutenção simples e com componentes locais”, falou Lima.
“Em 120 dias concebemos e homologamos essa placa na Anvisa. Nessa semana, foram 600 ventiladores homologados em 160 municípios de 14 Estados”, contou o professor Marcelo Zuffo, que também participou do evento.
A concepção do Inspire é uma placa única com toda a eletrônica embutida, disse Zuffo. “Nunca tivemos corrompimento de armazenamento da memória. E olha que colocamos em uma única placa inúmeras funcionaliddes, como gerenciamento de energia, GPS, Bluetooth”, falou.
“Um dos segredos da Caninos Loucos é que, por meio da Smart Modular Technology, fabricamos os chips de memória no Brasil, e são os mais avançados na indústria global de semicondutores. Usamos 3D e uma tecnologia que chamamos de ENCP. É como ter três chips integrados no mesmo chip, o que nos dá economia de área e de energia”, explicou Zuffo.
O único no mundo que usa essa memória é o Labrador, nome dado ao computador de placa única desenvolvido pela Caninos Loucos. “Nessas memórias conseguimos rodar Inteligência Artificial e algoritmos complexos do ventilador Inspire. Por isso não estamos com problemas de fornecimento de componentes: é tudo produção local. As placas são fabricadas em Sorocaba (SP), as memórias em Jundiaí (SP), e a gente tem completo domínio de suplemento e cadeia logística dessa tecnologia”, disse Zuffo.
Ele deu mais detalhes sobre o funcionamento. “Por orientação de Jon ‘Maddog’ Hall [engenheiro norte-americano cujo apelido inspirou o nome do projeto], instalamos o sistema operacional Linux com a distribuição mais aberta, que é o sistema operacional Debian. Ou seja, a Labrador roda um sistema operacional completo. A partir disso, consigo habilitar 59.000 pacotes de software dentro dela.”
Preço e custo
O produto vai custar entre US$ 70 e US$ 100, para o mercado maker, segundo Zuffo. “Mas com volume de escala, o preço cai”, disse.
“O custo é associado à qualidade dos materiais que você usa, e nós usamos as melhores memórias disponíveis no mundo para uma solução robusta, e isso tem um preço. Por isso um smartphone é mais caro que outros modelos, por exemplo”, falou o professor.
Rogério Nunes, presidente da Smart, que também participou do seminário desta quarta, disse que a empresa destinou cerca de R$ 5 milhões para o projeto.
Outras aplicações
Na parte final do seminário, representantes de outras áreas relacionaram algumas das inúmeras aplicações da Caninos Loucos. Em turismo 4.0, por exemplo, o projeto disponibilizou quatro estações de monitoramento em pontos turístucos de Pernambuco, segundo o professor Danilo R.B. de Araújo, da URFPE.
“Permite informações meteorológicas precisas, não disponíveis em outros dispositivos, além de precisão em relação à localização”, apontou Araújo.
Também foram apresentadas funções do Caninos para a indústria siderúrgica (monitoramento de bobinas de aço; remoção do fator humano e redução do risco de acidentes, entre outras), construção civil (monitoramento de todo o efetivo de pessoas e normas de segurança dentro da área de construção, por exemplo) e agricultura 4.0 (telemetria dos tratores e coleta de dados do solo).