SES investirá cerca de US$ 800 milhões na AL até 2018
A SES se prepara para acelerar o crescimento. Em 2016, mesmo diante de um cenário econômico desfavorável, conseguiu ampliar as receitas em dólar em quase 2% na América Latina. Em 2017 e 2018, a meta é crescer na esteira do lançamento de dois novos satélites, SES-10 e SES-14, que permitirão a entrada em novos mercados, como o de fornecimento de banda larga para aviões.
Nesta entrevista, Jurandir Pitsch, vice-presidente de vendas da SES para a América Latina Sul, comenta as perspectivas do satélite no mercado local. Os próximos anos são de chegada de diferentes concorrentes e de expansão sem precedentes na cobertura satelital. Mas não há preocupação com excesso de capacidade. Os serviços devem chegar mais baratos ao consumidor, o que será um dos principais fatores para aquecer a demanda por serviços satelitais. Não à toa, a SES está investindo quase US$ 800 milhões na região. Leia os detalhes a seguir:
Tele.Síntese – Como foi o ano de 2016 para a SES na região?
Jurandir Pitsch, vice-presidente de vendas da SES para a América Latina Sul – Não foi um ano muito fácil devido às dificuldades econômicas, especialmente no Brasil. Mas conseguimos manter o faturamento em dólar em relação ao ano passado. Até cresceu um pouquinho, em torno de 1,5% a 2%. Então foi uma conquista, já que a expectativa era de perder receita quando entramos no ano.
Quais os objetivos e agenda de lançamentos para 2017?
Pitsch – Esperamos uma definição da SpaceX [empresa contratada para colocar o satélite em órbita] para lançarmos o SES-10. O satélite devia ser sido lançado agora em dezembro, ficou para o primeiro trimestre do ano que vem. [Em função da explosão de um dos foguetes da empresa]. Obviamente o atraso acaba tendo algum impacto nos negócios. Cada mês que atrasa, atrasa também o faturamento com nova capacidade e novos clientes. A SpaceX tem demonstrado que vai conseguir retornar agora em dezembro.
Em setembro de 2017 lançaremos o SES-14. Um satélite importante, que vai ocupar a posição brasileira comprada pela SES no leilão de 2014. É a posição de 48 graus oeste. Será controlado a partir do Brasil, de acordo com a legislação brasileira. Passaremos então a ser mais brasileiros.
O SES-14 tem propulsão elétrica, deve levar cinco meses para chegar à posição e ser testado. Deve entrar em operação no início de 2018. Já o SES-10 é um satélite de propulsão química, que em questão de horas chegará à posição e será testado por cerca de um mês e meio antes de entrar em operação.
O SES-10 vai cobrir que área?
Pitsch – Ele vai cobrir toda a América Latina. Tem três feixes: um que cobre a América Central e Caribe; outro que cobre os países da América do Sul de língua espanhola, da Venezuela à Argentina; e um feixe dedicado ao Brasil. O SES-10 é um satélite widebeam, convencional, desenhado para aplicações múltiplas de dados e vídeo, mas planejamos usar mais para vídeo.
Já o SES-14 é highthroughput (HTS) híbrido, opera nas bandas Ku e Ka. Foi desenhado com foco em soluções profissionais como backhaul de celular e VSats empresariais, que usam banda Ku. Acreditamos que o Ku continuará a ser importante em regiões mais tropicais, principalmente como solução de backhaul. Mas vem com Ka também para operar com conexões remotas, mas a intenção é servir de gateway, pontos de concentração para os spots Ku.
Qual o total de investimento na região nos próximos anos?
Pitsch – A gente não divulga exatamente por conta dos termos de confidencialidade com fabricantes. Mas hoje um satélite convencional custa em média US$ 350 milhões, e um HTS custa US$ 400 milhões. Se juntar os dois, considerando que são para a América Latina, haverá um investimento considerável, entre US$ 700 milhões e US$ 800 milhões que estamos colocando na região no próximo ano e meio.
Estes satélites vão compartilhar infraestrutura terrestre?
Pitsch – O SES-14, como é posição brasileira, será controlado necessariamente daqui. Seu teleporto poderá ser usado, também, para o SES-10 em aplicações comerciais. Mas o SES-10 é um satélite estrangeiro, ocupa a posição orbital colombiana 67 graus oeste, e será controlado por estações terrestres nos Estados Unidos.
Não só a SES está investindo em satélites no país. É um momento de aparente efervescência da tecnologia…
Pitsch – Não é só no Brasil, não. Essa capacidade adicional grande que está chegando é desenhada para atender a novos mercados. O pessoal de Ka vem para atender banda larga residencial e PMEs, governo, escolas. A banda Ku atende aplicações mais profissionais e de governo. Mas muita capacidade será destinada à aeromobilidade, mercado em franco crescimento e ainda muito concentrado nos Estados Unidos. É um segmento que praticamente só pode ser atendido por satélite, especialmente nos vôos sobre oceanos e que demanda uma capacidade grande de satélite. Não se pode colocar 1 Mbps em um avião. Tem que se colocar 20 Mbps. E em pouco tempo, se vai colocar 200 Mbps.
Não haverá excesso?
Pitsch – Não. No mercado americano, um mercado maduro em satélite no qual se acreditava que ia sobrar banda, vê-se que a aplicação aeronáutica aumentou muito a demanda. A tecnologia de satélite HTS e de equipamentos de banda larga por satélite por si viabilizam o consumo das conexões por satélite. Os preços caíram muito. Somente para o broadcast continua fazendo mais sentido manter o uso dos satélites tradicionais por questões técnicas. O HTS consegue destravar demandas que sempre existiram no satélite, mas que eram inviáveis pelo custo. O backhaul por celular é uma delas.
O governo brasileiro parece mais sensível às demanda do setor este ano, que no passado. Confere?
Pitsch – Isso vem muito em função das mudanças tecnológicas. Poucos anos atrás o satélite era inviável para certos usos. Conectar 50 mil locais exigiria um conjunto de dez satélites e um limite de enlaces de rádio. Hoje a coisa é diferente. Um único satélite HTS pode conectar muito.
O governo percebeu isso, e acho que a construção de um satélite pela Telebrás ajudou. Também se mostrou mais receptível à redução do Fistel sobre a estação terrestre. O que faz todo sentido, com o setor investindo para trazer banda larga residencial, nada mais justo que a taxa para o terminal ser equivalente à do 3G ou 4G. O governo está aparentemente convencido de que, por se estar criando uma nova categoria, não vai perder, vai é ganhar ao baixar o Fistel.
Outra coisa importante é que hoje a regulamentação exige que cada estação terrena seja registrada na Anatel com latitude e longitude. O pleito do setor, que aparentemente o governo está ouvindo, é que se trata de um mercado de massa e fazer isso seria muito custoso. Nos outros países se faz apenas um licenciamento em branco por quantidade de terminais, como é com o celular.
A mudança do Fistel depende de projeto de lei criando nova categoria. O resto, depende de normas da Anatel. Esperamos que em 2017 aconteça. Estamos há dois anos pleiteando. É algo que pode definir o futuro da banda larga por satélite no Brasil. Sem isso, o setor poderá atender a milhares de pessoas, mas nunca chegará aos milhões.
E o gerador mais tradicional de receita no satélite, o broadcast, vai perder importância com a chegada dos novos segmentos?
Pitsch – Hoje quase 70% do faturamento da empresa no mundo vem da área de vídeo. A gente achava que o mercado estaria saturado hoje em dia, mas tem crescido sistematicamente. Continua sendo impulsionado pela migração do SD para o HD, que ainda não terminou em muitos países. Na América Latina, por exemplo, 30% dos canais são HD. Tem muito espaço para crescer. Novas tecnologias como UHD e HDR vão exigir mais banda também. Estão entrando mais canais UHD do que imaginávamos. Tem mais de 30 canais hoje em nosso satélite, ante cerca de 7 mil canais SD e HD, então tem muito a andar.
Vocês fizeram uma política de atualização de headends ao longo do ano. Em que ponto está a atualização?
Pitsch – Termina agora em 16 de dezembro, com renovação em 100% dos 350 headends do Brasil. Na América Latina instalamos em torno de 1 mil antenas, serão 1,8 mil ao final do ano que vem, nossa meta. Em termos de assinantes pendurados nos headends, já são 85% da América Latina porque atacamos os headends maiores. Mas foi difícil. As empresas não têm espaço físico. Muitos headends estavam em topo de prédios. No interior é mais fácil, mas em grandes cidades é muito difícil. Para os operadoras de TV foi bom porque até renovou as antenas. Em alguns casos colocamos antenas triple feed, que com uma só parábola recebe o sinal de três satélites diferentes. Quando viram, algumas até deixaram de temer a atualização passaram a pedir pelo novo equipamento.