TV 3.0 vem aí e exigirá do consumidor a compra de novos televisores
O novo padrão para a implantação da TV 3.0 no Brasil, que ainda não foi definido, vai obrigar os telespectadores a trocar de aparelho. “Será uma mudança de geração e terá uma transição lenta. A introdução desse modelo de TV será gradual, como foi o da TV analógica para a digital”, declarou o coordenador do Módulo Técnico do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD), Luiz Fausto. A primeira transmissão do tipo está marcada para acontecer em 2024.
Cinco meses após o início dos testes da Fase 2, o Fórum divulgou os resultados preliminares no começo deste ano. A maioria das tecnologias já foram definidas. Os testes abrangeram dez aspectos do sistema que deverá substituir o atual, acrescentando inovações como resolução 4K/8K, HDR e áudio imersivo. Também foram realizados experimentos de campo da Camada Física e da Camada de Transporte, que além de transmissão via broadcast, por meio de antenas e receptores de TV, dá suporte a streaming via internet banda larga.
A TV 3.0 trará inúmeras melhorias na experiência, entre elas: mais qualidade de som e imagem do que a TV digital atual, conteúdo mais segmentado geograficamente e de acordo com o perfil do telespectador, e uma integração ainda mais transparente entre TV aberta e Internet.
A “TV do futuro” será gerenciada por aplicativos, que darão ao telespectador a possibilidade de alternar naturalmente entre a TV aberta e os conteúdos de internet oferecidos pelas emissoras. A chegada do áudio imersivo será uma grande novidade.
Confira a entrevista na íntegra e veja o por que o novo modelo colocará o Brasil na vanguarda da TV digital no mundo.
Tele.Síntese – O que esperar da TV 3.0?
Luiz Fausto – Do ponto de vista do usuário, destaco três pontos importantes: qualidade de imagem e som, segmentação geográfica e integração maior por meio da internet.
Com a TV 3.0, esperamos aumentar a qualidade da experiência, o realismo e a sensação de imersão do conteúdo. Os telespectadores terão um conteúdo cada vez mais relevante, que será ao vivo, popular e local em relação às notícias e à publicidade.
O novo modelo também vai permitir a segmentação geográfica da distribuição aberta. Quanto mais regional for sua televisão mais oportunidades locais os negócios terão. A TV aberta vai continuar tendo uma plataforma de distribuição competitiva em termos de qualidade e experiência do usuário. Será capaz não apenas de manter o engajamento da audiência, mas também de viabilizar novos modelos de negócio, com uma segmentação maior da programação e comercialização, e a partir da maior integração com a Internet.
Para o mercado de radiodifusão, o novo modelo será um grande avanço. A iniciativa fortalece os esforços do setor de que trabalha em iniciativas transformadoras, voltadas para o atendimento das necessidades dos telespectadores e, que ao mesmo tempo, ofereçam um serviço de última geração, de forma gratuita.
Tele.Síntese – A implantação do TV 3.0 vai exigir que os usuários comprem ou troquem os aparelhos?
Luiz Fausto – O projeto da TV 3.0 é uma nova geração tecnológica. E toda mudança nesse sentido, exige novos equipamentos de transmissão e de recepção.
Tele.Síntese – Como será a implantação do novo modelo?
Luiz Fausto – Será igual a introdução de qualquer tecnologia. Por exemplo, a introdução da tecnologia do 5G, que há pouco tempo foi realizado o leilão, será gradativa. Toda transição de tecnologia é um processo lento.
O novo sistema vai se expandir aos poucos, primeiramente, pelas capitais, depois para outras localidades. O ciclo da TV é mais lento, porque os investimentos são altos quando comparados aos de algumas tecnologias. Uma das razões é que a cobertura é muito maior e a estrutura é mais robusta.
Não viraremos a chave da noite para o dia. Conforme nosso planejamento inicial, a primeira transmissão da TV 3.0 está prevista para 2024.
Tele.Síntese – Já existe um cronograma para a transição da tecnologia?
Luiz Fausto – Ainda não. Em TV, as mudanças são mais complexas, porque o setor é muito regulado. No Brasil, não podemos transmitir uma tecnologia que não está prevista na regulamentação. É diferente das outras tecnologias, onde o operador tem licenças. Com as TVs não é assim.
Funciona assim: o país adota uma determinada tecnologia. Então, a licença é concedida para transmitir essa tecnologia. A partir disso, todos os radiodifusores licenciados têm que operar com a tecnologia estabelecida. Os fabricantes também têm de seguir normas. Quando o assunto é TV, tudo é muito amarrado em termos de normas e regulamentações.
Em 2023, esperamos está com o conjunto pronto para ser apresentado como recomendação. A partir daí, será elaborada uma regulamentação do serviço de radiodifusão a ser adotada. Quando essa regulamentação for aprovada, vamos começar a transmitir. A expectativa é que seja em 2024.
Como ainda não tem padrão, nem regulamentação não existe ainda um cronograma. Mas começar pelas capitais e grandes cidades é um caminho natural.
Tele.Síntese – O novo padrão vai exigir mais espectro?
Luiz Fausto – O novo modelo vai utilizar as mesmas faixas de frequência atualmente utilizadas para TV digital. Isso permitirá operar, em uma mesma frequência e na mesma localidade, com programações diferentes.
Tele.Síntese – Com a mudança do padrão, as emissoras terão custo?
Luiz Fausto – As emissoras sempre pagam para adotar qualquer coisa. Isso é inevitável. A ideia é que não seja um peso, mas sim uma oportunidade, que exigirá investimento e que se tenha retorno. Essa mudança tem de ser boa para todo mundo.
O importante é que vamos manter atualizada a plataforma: livre, democrática – com conteúdo brasileiro – e feito para brasileiro.
Tele.Síntese – A TV 3.0 vai interferir na TV por assinatura ou apenas na aberta?
Luiz Fausto – O novo padrão não afeta diretamente a TV paga, apenas a aberta, mas, indiretamente, pode fomentar a evolução da TV, de forma similar ao que ocorreu com a introdução da alta definição na TV paga após o início da operação da TV digital.
Tele.Síntese – Existem alguns recursos obrigatórios que o novo padrão deverá ter?
Luiz Fausto – Não existe uma lista de recursos obrigatórios, mas existe requisitos estabelecidos pelo Fórum SBTVD para as tecnologias candidatas. São eles, o reúso do mesmo canal de televisão por estações cobrindo áreas adjacentes com conteúdos distintos (fator de reúso de frequência 1), o transporte baseado em IP (integrando conteúdos transmitidos pelo ar e pela internet), vídeo UHD/HDR, áudio imersivo e personalizável, mais recursos de acessibilidade, um sistema de alerta de emergência e navegação baseada em aplicativos.
Todas as informações sobre esse assunto estão na página do Fórum.
Tele.Síntese – Na sua opinião, os resultados da Fase 2, divulgados recentemente, foram satisfatórios?
Luiz Fausto – Os resultados da Fase 2 foram excelentes, confirmando que estamos na direção certa. Estamos trabalhando para desenvolver o melhor sistema de TV digital para o futuro do Brasil. Esse novo modelo tem de ser atraente tanto para o telespectador quando para o radiodifusor.
É importante destacar que não estamos pegando nada pronto. Fizemos vários testes, que foram realizados em laboratório e em campo, nas universidades.
Quando o novo padrão for estabelecido, será importante que todos estejam seguros de que a tecnologia é boa e funciona.
Tele.Síntese – Quais são os próximos passos?
Luiz Fausto – É importante destacar que começamos um processo que envolveu a definição dos requisitos – o que se espera dessa tecnologia -, e fizemos uma chama internacional. Nossos requisitos foram ambiciosos.
Depois da divulgação da chamada internacional, tivermos várias respostas de diferentes organizações no mundo. Foram 30 tecnologias candidatas, que foram testadas na fase 2.
Vale salientar que não estamos pegando um sistema de tv digital pronto de um outro lugar para apenas implantar no Brasil. Estamos testando para definir qual é a melhor tecnologia de codificação de vídeo, de áudio etc. Ainda faltam ajustes e o novo padrão não foi definido.
Agora, teremos a Fase 3. Nela, serão realizadas análises complementares para seleção da melhor tecnologia a ser utilizada na Camada Física, além de desenvolvimento das adaptações e extensões necessárias à especificação da camada de transporte, avaliação subjetiva da qualidade da codificação de vídeo – determinação do bitrate necessário -, desenvolvimento de adaptações e extensões para DTV Play para TV 3.0 Codificação de Aplicativos, entre outras atividades.
Concluídos os testes e definidas todas as tecnologias, os resultados serão enviados à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que precisará homologá-los antes do envio ao Ministério das Comunicações para aprovação final.
Quando as normas forem publicadas pela ABNT e referenciadas na regulamentação do serviço de radiodifusão, as emissoras poderão ser autorizadas pelo governo a iniciar a operação do novo sistema.