5G chegará ao campo em 2028, prevê pesquisador

Coordenador do projeto 5G Long Range no Inatel, o professor Luciano Leonel Mendes e mais 35 pesquisadores trabalham para criar um produto capaz de levar as redes de quinta geração às áreas mais recônditas do país a um terço do preço. Ele espera que o padrão desenvolvido no interior de Minas Gerais seja incluído no release 17 da 3GPP em 2025.

O Brasil tomou a frente na criação de um padrão de longo alcance para rede  móvel de quinta geração, batizado de 5G Long Range. O projeto, iniciado no Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG), em 2015, prevê o desenvolvimento de tecnologia capaz de entregar conectividade a milhares de dispositivos no campo num raio de 50 Km, com velocidades de pelo menos 50 Mbps.

O professor Luciano Leonel Mendes, coordena a pesquisa no Centro de Referência em Radiocomunicação do Inatel. Ele conta, na entrevista abaixo, que o trabalho vem sendo feito em parceria com fabricantes e operadoras, com base em demandas do produtor rural.

Diz, ainda, que a tecnologia deverá custar menos que o 4G equivalente, e terá demanda de diferente países. O grupo trabalha para inserir o padrão no release 17 da 5G, que sairá em 2025. Mas ainda passarão anos até que a 5G chegue às zonas rurais.

“O 5G, no campo, só vai chegar antes de 2025 se tiver uma demanda de mercado muito forte. Nossa visão hoje é que isso acontece somente em 2028”, conta. Leia abaixo mais detalhes sobre esse projeto inovador tocado pela instituição de ensino brasileira, por 36 pesquisadores.

Tele.Síntese: O que vocês já desenvolveram em 5G no CRR do Inatel?

Luciano Leonel Mendes, coordenador do Centro de Referência em Radiofrequência do Inatel – Esse equipamento receptor 5G, compatível com o padrão 5G Long Range, que também desenvolvemos, e tem um alcance de 50 Km, com mais estabilidade e chegando a 50 Mbps. Fizemos um receptor, que está em fase de desenvolvimento, e funciona como um celular. Estamos agora trabalhando para que estas soluções consigam ser embarcadas dentro de um dispositivo celular tradicional. É o próximo passo da pesquisa. Estamos transferindo a tecnologia para a Ericsson, nosso principal parceiro industrial. E temos parceiros entre empresas de consumo e operadoras, que estão interessadas em colocar isso no mercado.

Qual a latência e frequência?

Mendes – Em 700 MHz. Quando a gente olha os requisitos da 5G de alta vazão, baixa latência, alta conectividade e longo alcance, os requisitos não são simultâneos. Temos que entender isso. Se você quer alta vazão, não vai ter 5 ms. Se quer 5 ms, não vai ter 50 Km de alcance. O 5G  tem um sistema de coordenação que divide o espectro para atender os casos dos usuários. Se na rede não tiver ninguém demandando baixa latência, todos os recursos serão para atender os serviços demandados. Apareceu um usuário de baixa latência, então parte do recurso será destinado para isso de forma dinâmica. Então esse algoritmo de distribuição de recursos é essencial numa rede 5G. Mas em nenhum momento será possível atender todos os requisitos base simultaneamente.

O que vocês já fizeram para testar o 5G Long Range?

Mendes – Nós levamos internet banda larga a uma escola rural daqui da região de Santa Rita do Sapucaí, com 80 alunos, em maio deste ano. Foi a primeira vez que vimos o impacto dessa tecnologia na vida das crianças. Essas crianças tiveram acesso à internet pela primeira vez e usaram também IoT para fazer uma pequena horta. O sistema analisava a quantidade de água em cada canteiro, e as crianças podem acionar o sistema de água para cada cultura, de acordo com as medições em tempo real.

Esse é um exemplo de uso FWA do 5G?

Mendes – Isso. É uma solução fixa, aí distribui o sinal na escola via WiFi. A gente conseguiu uma vazão bem mais alta. Mas o 5G, a 50 Km de distância, chega a 57 Mbps. A escola está a 12 Km da cidade, e a 8 Km das estações radiobase.

Que outros mercados se interessariam pelo 5G Long Range?

Mendes – Quando a gente apresenta essa solução, vemos que tem um interesse muito grande, até em mercados que a gente acha que a questão da conectividade está totalmente resolvida. Por exemplo, a Finlândia tem um extremo interesse nessa tecnologia porque o Norte do país tem as mesmas características dos rincões do Brasil. São regiões de baixo destaque nacional, muito ermas, então colocar várias ERBs ali teria custo proibitivo. China, Índia, Austrália, também têm interesse nessa solução. Então o caso de uso, está bem claro, não é brasileiro. É um caso de uso mundial, para diferentes aplicações.

Outro exemplo: no Chile há interesse para monitoramento de desastres na região da Cordilheira dos Andes. Tem vários países interessados.

O 5G Long Range está patenteado?

Mendes – Está em processo de patenteamento. É uma tecnologia com desenvolvimento conjunto, mas nossa ideia é deixá-la a mais livre possível para que seja de fato implantada no padrão. Nosso objetivo é que entre de fato no padrão 3GPP. Nosso alvo é que entre no release 17, que deve tratar da questão de áreas remotas.

Já apresentamos o padrão, nosso maior apoiador no 3GGP é a agência britânica Ofcom. A Inglaterra tem um projeto similar, mas com 4G, chamado Rural First, que não consegue as nossas vazões. Eles estão buscando apoio para que se padronize o 5G Long Range dentro do 3GPP.

E quando sai o release 17?

Mendes – Em 2025 ou 2026.

Então quando a 5G vai chegar no campo no Brasil?

Mendes – O 5G, no campo, só vai chegar antes de 2025 se tiver uma demanda de mercado muito forte. Nossa a visão hoje é que isso acontece somente em 2028. Até lá, acreditamos que predomine o 4G no campo.

E se o 3GPP não aprovar o padrão?

Mendes – Aí vamos trabalhar para fazer dessa solução uma versão proprietária, e vai ser vendido como não sendo 5G. Mas nossa expectativa é aprovação, porque o 5G vai atender áreas remotas e há pressão para isso. Difícil ver operadoras e indústria não trabalhando sem isso.

Qual será o preço do equipamento?

Mendes – Desenvolvemos uma solução LTE on-a-box, para redes privadas, de custo de produção de US$ 7 mil. O preço final depende dos fabricantes, mas o números que ouvimos no mercado das ERBs tradicionais é R$ 150 mil a R$ 200 mil por ERB 4G. Estamos falando, no nosso caso, de 1/3 do valor do equipamento 4G, que tem dentro de si um núcleo de rede, tem alimentação DC, se conecta ao backhaul via internet (ethernet). Estamos desenvolvendo uma solução com painel solar. A conexão via fibra é apenas mudar uma interface. No caso da 5G Long Range, estimamos custo por ERB de US$ 7 a US$ 10 mil. A ideia é reduzir o custo para que o operador local possa arcar com o custo, nossa meta é também um custo 33% menor que no LTE.

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Rafael Bucco

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