Desempenho da indústria depende dos TACs e de novo modelo
Nunca o planejamento dos fornecedores de sistemas e serviços de telecomunicações esteve tão dependente de medidas regulatórias e políticas: a aprovação pelo TCU dos Termos de Ajuste de Conduta da Telefônica e da Oi, já chancelados pela Anatel, e a aprovação pelo Senado Federal do PLC 79/2016 (PL 3453) que altera o modelo de telecomunicações, transformando as concessões de telefonia fixa em autorizações com a contrapartida de investimentos em banda larga fixa em áreas não atendidas.
O ano de 2017 será melhor ou pior para o setor de telecom a depender do ritmo de desenvolvimento desses dois projetos. No caso do TAC da Telefônica, a expectativa é de que seja liberado logo pelo TCU. Como envolve investimentos de R$ 4,2 bilhões em quatro anos, em rede óptica – neste ano seriam fibradas 19 cidades – e redes móveis, a indústria aguarda com ansiedade a posição do TCU. O segmento de fibras e cabos, que andou de lado no ano passado, espera se recuperar.
Graças à exportação, da ordem de 25% de sua receita líquida, a Furukawa, que encerra seu exercício fiscal em março, conseguiu enfrentar a recessão econômica no mercado brasileiro mantendo crescimento da ordem de 10% sobre os R$ 703 milhões apurados no exercício encerrado em março de 2016. Os mercados da América Latina que garantiram seu bom desempenho foram Argentina, Colômbia, Equador, Peru e Chile. Para Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa Industrial e vice-presidente do Grupo Furukawa Eletric, 2017 se anuncia um pouco melhor do que o ano anterior. Ele espera que com os TACs as operadoras acelerem os investimentos. E lembra que os provedores regionais, embora representem de 10% a 15% de seu faturamento, têm garantido o giro dos negócios, pois não pararam de comprar.
Mesmo tendo crescido as vendas em 25% no segmento de provedores regionais, a Cablena, fabricante de cabos ópticos, viu seu faturamento despencar 30% em 2016 no Brasil, graças à redução das compras das operadoras e à perda do contrato da Oi. Empresa do grupo mexicano Carso, do empresário Carlos Slim, a Cablena atua, no Brasil, na área automotiva e de telecom. Para 2017, o planejamento da empresa, segundo Andrea Fortini, gerente de marketing, prevê uma retomada dos negócios, com crescimento de 20%.
Se há otimismo em relação à aprovação rápida do TAC da Telefônica, em relação ao da Oi a situação é bastante complicada, pois envolve a Justiça. Em 5 de outubro de 2016, o TCU aprovou acordão suspendendo o julgamento do TAC da empresa até que a comissão de mediação criada pela Justiça do Rio de Janeiro decida se as multas da Anatel fazem ou não parte da lista de créditos a serem pagos pela empresa dentro dos compromissos da recuperação judicial.
Novo modelo
A indústria já sabe que a aprovação do novo modelo de telecom, que transforma as concessão do STFC em autorizações e que todos os executivos dão como favas contadas mesmo com a reação da oposição no Seando, não terá mais nenhuma repercussão no mercado no primeiro semestre. O raciocínio é de que o PLC 29/2016 só vai ser aprovado no final de fevereiro ou em março e que sua implementação vai demandar tempo, pois a Anatel terá que fazer as contas da concessão – os bens reversíveis e o que as empresas devem de metas de universalização –. aprovar essas contas junto aos órgãos de fiscalização e estabelecer, também com o seu aval, onde as operadoras vão aplicar o dinheiro na banda larga e como isso será fiscalizado.
Se tudo isso acabar a tempo de as operadoras começarem a investir no segundo semestre vai ser uma boa notícia para a indústria. “São investimentos em banda larga fixa e nós temos soluções para back haul”, comenta Manuel Andrade, presidente da Padtec, fabricante de produtos e soluções para redes ópticas. Mas como não pode aguardar as mudanças regulatórias para fazer a roda girar, o planejamento da Padtec, que deve fechar 2016 com cash flow positivo e crescimento de 5% nas vendas, prevê um crescimento modesto para 2017, entre 5 e 10%. A área de cabos submarinos responde por 25% de seu faturamento; a de serviços, por outros 25%; e a de equipamentos, pelos 50% restantes.
Além negociação do TAC, do novo modelo e da banda larga que devem puxar o setor, Wilson Cardoso, diretor de tecnologia para a América Latina da Nokia, vê derivadas positivas que transmitem um otimismo moderado: a taxa cambial e a queda da inflação, no cenário da macroeconomia, e o crescimento do pós-pago no final do ano, na microeconomia setorial.
Também lhe chamou positivamente a atenção alguns dos itens incluídos na pauta regulatória da Anatel colocada em consulta pública no início do mês. Entre elas, as novas faixas de destinação da banda S, que vai permitir, segundo ele, alguns serviços interessantes; o modelo de gestão de espectro e compartilhamento; e a reavaliação do modelo de outorga, licenciamento e serviço que, na sua visão, permitirá alavancar pequenas e médias operadoras regionais.