Nelson Simões: os 25 anos da internet no Brasil
O economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950), grande teórico do empreendedorismo e da inovação, dizia que os três pilares do crescimento econômico são a renovação tecnológica, o crédito para novos investimentos e o empreendedorismo. Não é preciso dizer que, no Brasil, esses aspectos enfrentam enormes desafios. Apesar de sermos um país plenamente integrado à economia globalizada, ainda não nos livramos totalmente da herança burocrático-patrimonialista que coloca inúmeros entraves às atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Em meio a esses grandes desafios, há 25 anos, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) colocava em operação o primeiro backbone de internet do Brasil. A conexão entre Rio de Janeiro e São Paulo permitiu que os participantes da Eco-92, ou Rio-92, como ficou mais conhecida, pudessem se comunicar pela web. Ainda um projeto do CNPq à época, a RNP dava início à missão de implantar uma infraestrutura nacional para impulsionar o ensino e a pesquisa no país, por meio da rede mundial de computadores.
Era tão importante para o país que o projeto não ficasse restrito ao ambiente acadêmico que a RNP passou a qualificar seus recursos humanos para apoiar o lançamento da primeira internet comercial, em 1995. Outro grande marco foi o programa interministerial MCTIC/MEC, lançado em 2001, que permitiu à organização evoluir e se equiparar, em termos de qualidade e abrangência, aos países referência em redes nacionais de pesquisa.
A rede acadêmica, batizada de rede Ipê, avançou Brasil adentro e hoje conecta universidades, hospitais e instituições de ensino e pesquisa em todos os estados e no Distrito Federal, atendendo a mais de 1,5 mil campi. Nesses 25 anos, a rede Ipê experimentou diversas inovações tecnológicas, passando das linhas telefônicas, com uma capacidade de 64 Kb/s, para a fibra óptica, dando origem à rede escalável gigatizada, capaz de crescer em conexões múltiplas de 100 Gb/s.
As pessoas que usam a internet comercial no dia a dia talvez nem imaginem o porquê de uma conexão tão rápida. Mas pouca gente consegue imaginar como no Brasil se faz pesquisa de ponta, comparável a de países desenvolvidos, como no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Essas instituições utilizam os serviços de superconectividade e colocam o Brasil em um patamar mundial em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Sem contar a Rede Universitária de Telemedicina (Rute), que se orgulha em conectar 128 núcleos em mais de 50 grupos especiais de interesse, consolidando-se como uma das maiores iniciativas em telessaúde no mundo.
Por ser um país plural em realidades socioeconômicas e culturais, só foi possível criar uma infraestrutura nacional, tendo em vista as parcerias realizadas com apoiadores estratégicos, como, para citar apenas alguns, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), o Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti) e o Exército Brasileiro. É por meio dessas parcerias, com benefícios mútuos e para a sociedade, que será criada uma nova rede acadêmica muito mais flexível e segura. Com ela, poderemos interconectar unidades estaduais de ensino como âncoras do processo de inclusão digital, além de interiorizar as infraestruturas de telecomunicações para a região amazônica.
Assim, olhando para trás, percebemos os enormes desafios e aprendizados, mas também não podemos deixar de lado as perspectivas daqui para frente. É por isso que o tema escolhido para o próximo Fórum RNP, evento promovido anualmente para discutir os desenvolvimentos educacional e tecnológico no país, será os “25 anos de internet no Brasil – desafios e perspectivas”.
Em resumo, é nesse sentido que pesquisadores e gestores de TI de todo o país passam a discutir de que forma é possível criar espaços acadêmicos mais amigáveis, de acesso e conexão facilitados, de forma segura, econômica, sempre atenta às questões éticas e preocupadas com o desenvolvimento sustentável.
Portanto, passados 25 anos, nunca poderíamos imaginar até onde a RNP chegaria e, embora tenhamos uma visão estratégica bem definida para daqui em diante, o cenário da tecnologia e inovação evolui rapidamente, de maneira imprevisível e, muitas vezes, disruptiva. Mas independentemente do que nos aguarda, acreditamos que o maior impacto positivo que podemos causar é o de possibilitar a conexão entre espaços e pessoas e permitir um futuro mais próspero para o ensino e a pesquisa no país.
* Diretor-geral da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)