WiFi ou celular: estudo tenta decifrar em qual serviço os 6 GHz dão mais retorno

Projeção sobre destinação dos 6 GHz feita por Raul Katz, a pedido da Abrint, indica que solução híbrida não compensa os ganhos com a exclusividade do uso não licenciado. Para a Anatel, ainda faltam casos de uso que comprovem a demanda do WiFi por 1200 MHz de espectro.
Painel 6 GHz Abrint
No Encontro Abrint 2024, provedores defendem manutenção da atual destinação dos 6 GHz para o WiFi, em vez de compartilhamento com o celular

Uma projeção realizada pela consultoria Telecom Advisory Services e apresentada pela primeira vez hoje, 13, no Encontro Abrint 2024, conclui que há maior ganho econômico ao Brasil caso seja mantida a destinação de toda a faixa de 6 GHz para o WiFi.

O estudo foi elaborado pelo professor da Universidade de San Andrés (Argentina) e ex-professor de finanças e economia da Columbia Business School, de Nova York (EUA), a pedido da Abrint – que defende preservar o uso de 1200 MHz da faixa de 6 GHz para serviços não licenciados, cujo maia  comum é o WiFi.

Katz levou em consideração o tamanho do mercado brasileiro de banda larga fixa e banda larga móvel, a quantidade de empresas que atuam nestes segmentos, o modelo de rentabilização atrelado às faixas de frequências, entre outros fatores, a fim de estimar a geração possível de riqueza.

Ele utilizou três cenários distintos: a manutenção da regra atual (tudo para o WiFi); a proposta da GSMA (700 MHz da faixa de 6 GHz para o móvel, e os 500 MHz restantes para o WiFi); e o modelo híbrido, que apelidou de “frankenstein”. O terceiro modelo é chamado de jabuticaba pelos  brasileiros por ser exclusivo daqui e prever 1200 MHz liberados para uso de WiFi indoor, 700 MHz para uso celular outdoor, e 500 MHz para uso WiFi outdoor.

Conclusões de Raul Katz sobre destinação dos 6 GHz no Brasil
Conclusões de Raul Katz sobre destinação dos 6 GHz no Brasil

As conclusões podem ser vistas no gráfico acima. Pelas contas de Katz, faixa toda para o WiFi teria um impacto econômico positivo de US$ 689 bilhões. A divisão da faixa com o móvel resultaria em ganhos econômicos para o país da ordem de US$ 435 bilhões, sem considerar valores levantados em leilões de espectro. Já o modelo “frankenstein” somaria US$ 600 bilhões sem considerar valores de licitação.

Com base nisso, ele concluiu: “a diferença entre a entrega total e partia dos 6 GHz para o WiFi é maior do que a esperada para a alocação parcial do 5G”. Ele ressaltou que a conta considera o fato de o WiFi 6E já estar em produção e a monetização poder começar em breve, enquanto os celulares com 6 GHz não chegariam ao mercado antes de 2027. E lembrou que o modelo não levou em conta os custos atrelados ao refarming da faixa, necessário uma vez que há redes de transporte utilizando microondas.

Debate

Katz apresentou o material à plateia da Abrint, na qual estava Vinicius Caram, superintendente de Outorgas  e Recursos  à prestação da Anatel, que logo depois subiu ao palco para debater a alocação da faixa com outros interessados.

Caram destacou que a decisão da Anatel que destinou a integralidade da faixa de 6 GHz para uso não licenciado previa uma ocupação mais acelerada do espectro pelo WiFi. “Tinha-se expectativa de o wifi 6E estar disponível nos últimos 3 anos. Isso não aconteceu. Neste meio tempo, surgiu a discussão global fundamentada na questão da escala. Para evoluir para o 6G da telefonia móvel, são precisos canais maiores”, resumiu.

Ele reconhece que o WiFi é importante para offload de dados das redes móveis e usos industriais, e por isso defendeu a proposta de convivência entre WiFi indoor e fatia móvel no outdoor. “Acredito que é possível usar o espectro de forma dinâmica e fazer a divisão apenas nos mercado mais densos. Não há necessidade de usar todo o espectro em todas as áreas, é possível compartilhar”, defendeu.

Ele também observou que não se tem conhecimento, até o momento de uso  de todo o canal de 320 MHz pelo WiFi em residências. Disse que não se conhece provedor de internet distribuindo pontos de acesso WiFi 6E. E que, de toda forma, as consultas da Anatel no momento não alteram o fato de que a faixa está livre para o uso não licenciado.

Surpresa constrangedora

O painel não contou com a presença de representantes da GSMA, que vem defendendo o compartilhamento. Estavam ali os representantes da Abrint, Cristiane Sanches , da Dynamic Spectrum Alliance, Martha Suarez, da Cabasi, Esteban Lescano, e da Cisco, Giuseppe Marrara. Todos defendem manutenção da regra atual.

Marrara, da Cisco, afirmou que a decisão brasileira de avaliar rever a destinação incomodou. “A partir da decisão da Anatel em 2021, investimos em uma fábrica que já produziu 70 mil access points WiFi 6E operando em 6 GHz. A maioria dos clientes já compra aparelhos triband [que emitem 6 GHz]. Foi uma surpresa constrangedora a retomada dessa discussão”, reclamou.

Segundo ele, o WiFi tem disponível para uso apenas 0,8 GHz de espectro, mas suporta de 60 a 70% do tráfego de internet, além de funcionar para o offload das redes móveis. E avisou que além dos 6 GHz, a indústria do WiFi vai pedir mais no futuro. “Os 1200 MHz foram importantíssimos, mas não são o suficiente, precisaremos de mais”, falou.

Cristiane Sanches, da Abrint, apontou preocupação com o modelo “frankenstein”. “Tem aspectos do uso outdoor que interferem no uso indoor. Então o uso híbrido passa por fazer a adequação. Essa convivência é muito difícil”, avaliou.

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Rafael Bucco

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